segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Coisas do mundo oncológico

Venho compartilhar um texto que achei lindo, ainda que tenha partes um pouco tristes. Explica um pouco o porquê de eu me sentir bem em um ambiente de tratamento infusional (coisa inimaginável há um tempo), mesmo que só tomando injeção agora com a graça de Deus. Lá eu também sinto orgulho de ser pessoa. Esse texto é de um português e achei interessante também , porque meu médico( a gente se apossa dos médicos) cirurgião que também é português, sempre se despede de mim, dizendo "as melhoras".

O último abraço que me dá

Por Antônio Lobo Antunes

O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, onde a elegância dos doentes os transforma em reis. Numa das últimas vezes que lá fui encontrei um homem que conheço há muitos anos. Estava tão magro que demorei a perceber quem era. Disse-me
- Abrace-me porque é o último abraço que me dá
durante o abraço
- Tenho muita pena de não acabar a tese de doutoramento
e, ao afastarmo-nos, sorriu. Nunca vi um sorriso com tanta dor entre parêntesis, nunca imaginei que fosse tão bonito.
Com o meu corpo contra o dele veio-me à cabeça, instantâneo, o fragmento de um poema do meu amigo Alexandre O'Neill, que diz que apenas entre os homens, e por eles, vale a pena viver. E descobri-me cheio de respeito e amor. Um rapaz, de cerca de vinte anos, que fazia quimioterapia ao pé de mim, numa determinação tranquila:
- Estou aqui para lutar
e, por estranho que pareça, havia alegria em cada gesto seu. Achei nele o medo também, mais do que o medo, o terror e, ao mesmo tempo que o terror, a coragem e a esperança.
A extraordinária delicadeza e atenção dos médicos, dos enfermeiros, comoveu-me. Tropecei no desespero, no malestar físico, na presença da morte, na surpresa da dor, na horrível solidão da proximidade do fim, que se me afigura de uma injustiça intolerável. Não fomos feitos para isto, fomos feitos para a vida. O cabelo cresce-me de novo, acho-me, fisicamente, como antes, estou a acabar o livro e o meu pensamento desvia-se constantemente para a voz de um homem no meu ouvido
- Acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento
porque não aceito a aceitação, porque não aceito a crueldade, porque não aceito que destruam companheiros. A rapariga com a peruca no braço da cadeira. O senhor que não olhava para ninguém, olhava para o vazio. Ali, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na pele. Vi morrer gente quando era médico, vi morrer gente na guerra, e continuo sem compreender. Isso eu sei que não compreenderei. Que me espanta. Que me faz zangar. Abrace-me porque é o último abraço que me dá: é uma frase que se entenda, esta? Morreu há muito pouco tempo. Foda-se. Perdoem esta palavra mas é a única que me sai. Foda-se. Quando eu era pequeno ninguém morria. Porque carga de água se morre agora, pelo simples facto de eu ter crescido? Morra um homem fique fama, declaravam os contrabandistas da raia. Se tivermos sorte alguém se lembrará de nós com saudade. De mim ficarão os livros. E depois? Tolstoi, no seu diário: sou o melhor; e depois? E depois nada porque a fama é nada.
O que é muito mais do que nada são estas criaturas feridas, a recordação profundamente lancinante de uma peruca de mulher num braço de cadeira. Se eu estivesse ali sozinho, sem ninguém a ver-me, acariciava uma daquelas madeixas horas sem fim. No termo das sessões de quimioterapia as pessoas vão-se embora. Ao desaparecerem na porta penso: o que farão agora? E apetece-me ir com eles, impedir que lhes façam mal:
- Abrace-me porque talvez não seja o último abraço que me dá.
Ao M. foi. E pode afigurar-se estranho mas ainda o trago na pele. Durante quanto tempo vou ficar com ele tatuado? O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria onde a dignidade dos escravos da doença os transforma em gigantes, onde só existem, nas palavras do Luís, Heróis.
Onde só existem Heróis. Não estou doente agora. Não sei se voltarei a estar. Se voltar a estar, embora não chegue aos calcanhares de herói algum, espero comportar-me como um homem. Oxalá o consiga. Como escreveu Torga o destino destina mas o resto é comigo. E é. Muito boa tarde a todos e as melhoras: é assim que se despedem no Serviço de Oncologia. Muito boa tarde a todos e até já, mesmo que seja o último abraço que damos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Radioterapia e Frei luiz

Já fiz oito sessões de radioterapia, por enquanto, a pele está normal, não me sinto indisposta. Tenho realizado as sessões de forma tranquila, tirei até uma fotinho com o avental da radio hj. O tratamento tem passado rápido e tenho sido muito bem atendida.

Depois fui ao lar de Frei Luiz. Não tenho falado muito sobre o meu tratamento espiritual, mas continuo fazendo. Já devo ter feito umas sete sessões, de um modo geral, me sinto bem depois. Normalmente, não converso muito lá, pois o silêncio é algo que é muito solicitado, mas hoje quebrei um pouquinho a regra do silêncio e falei na fila com uma menina que estava a minha frente chamada Michele, ela estava de lenço na cabeça. Perguntei se o dela também era na mama, pois disse que tive na mama, ela disse que o caso dela era leucemia e disse que havia feito quimio, mas não obteve resposta. Eu disse que hoje em dia, o transplante tem sido feito com muito sucesso e tem sido mais fácil de encontrar uma medula compatível. Ela disse que tem outro problema de saúde, falou o nome, mas esqueci, e que o transplante no caso dela poderia ser fatal. Eu não tive muito o que dizer, a não ser falar que ia dar tudo certo para gente, mas como queria ter o que dizer para ela. Fomos para a mesma sala e rezei por mim, por ela , por nós! Que Deus nos cure, Michele, que haja uma solução para o seu caso também. É o que pedirei quando rezar de agora em diante.

Fui selecionada para aguardar o meu tratamento em outra sala que nunca tinha ficado, acho que foi porque cheguei mais cedo e também fui pela primeira vez sem peruca. Acredito que tenham selecionado pessoas em tratamento de câncer, pois ficávamos em uma sala deitados e os médiuns se preparavam nessa sala. Foi muito bom ficar nessa sala, pois a energia lá é muito boa, pude ouvir os mediuns rezando antes de começarem a trabalhar. Achei bem emocionante , eles pediram pelo espírito do médium Gilberto que foi assassinado no Lar faz pouco tempo, disseram que ele devia estar lá com eles.

Fui atendida pela médium Sara que foi a mesma que me atendeu no último tratamento. Ela falou que meu cabelo está bonito que era para eu sair sempre com ele assim, para comprar uma tiara na Forever 21 de pedrinhas que vai ficar lindo. Saí de lá com uma energia muito boa!



Um pouco antes de entrar na máquina da radioterapia






Esse é o estado da minha unha , toda quebrada.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Radioterapia, zoladex e descanso

Passei o feriado em Visconde de Mauá para relaxar e descansar um pouquinho. Foi a primeira vez que saí sem peruca,tirei e fiquei lá esse tempinho de cabelos naturais, ainda estou me adaptando. Também fiz umas fotos em Maringá que ficaram muito legais, pois o fotógrafo faz um trabalho bem diferente. No estúdio tem um espelho que mistura duas imagens e a lente capta essa junção. Fiz eu e minha irmã, foi bom para registrar essa fase de cabelo curto.

Tomei a segunda dose do Zoladex, dessa vez a anestesia local doeu um pouquinho. A enfermeira Dejane me deu a injeção, não sei se a mão dela é mais pesada, mas senti um pouco de incômodo. Contei a ela que as minhas unhas estão muito fracas, ela disse que deve ser o tamoxifeno e não o Zoladex. À tarde saiu bastante sangue no curativo e tive que trocar, diferente da primeira vez. Não sei se o motivo pelo qual isso ocorreu foi ter feito atividade física na academia ou não tem nenhuma relação, da próxima vez que tomar, vou perguntar.

Hoje foi a primeira vez que fui ao COI sem peruca e recebi elogios da minha radioterapeuta e também da técnica da radioterapia. A Lilian me examinou, achou um pouco mais inchado e disse que seria bom ir ao cirurgião para ele dar uma olhada. Ela falou que o fato de ter líquido não significa que tenha infecção, disse que o aspecto da pele não está ruim e acha melhor não drenar, a não ser que me incomode, pois corre-se mais risco de infecção. Quanto a isso, prefiro que o Dr. Paulo decida, pois confio nele e sei que fará o que achar mais adequado. Também quando você começa a fazer diversos tratamentos, cada especialista fala do seu ponto de vista. Em alguns momentos, fica até meio confuso: o técnico da radioterapia me enche de esparadrapo para proteger a marcação da radio; o Dr. Paulo não gosta que coloque esparadrapo , pois fica mais suscetível de infecção. Eu fico tentando administrar tudo isso, por isso que em relação a cirurgia, melhor ouvir apenas a orientação do cirurgião. No mais, foi ótimo ver a Lilian, é uma médica maravilhosa, sempre com uma palavra carinhosa.

Amanhã irei ao Hospital do Grajaú de manhã, encontrar o cirurgião e continuarei minha peregrinação para combater essas zicas da prótese. A Lilian disse que meu corpo está rejeitando o expansor. Paciência para enfrentar esses contratempos.


Visconde de Mauá










Maringá (Visconde de Mauá)









Foto tirada pelo fotógrafo Rui Takeguma










Primeira vez que vou ao COI sem peruca

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Hoje fiz a terceira sessão de radioterapia, estou me acostumando com essa rotina. A sala é um pouco sombria, juntamente com as máquinas. Os técnicos fazem mil cálculos e sempre tenho vontade de coçar o nariz quando não posso mais mexer a mão rs, mas acho que já estou entrando no ritmo dessa minha nova rotina. Senti dor de cabeça nos dois primeiros dias, acho que foi nervoso.

Depois passei no cirurgião para ele dar uma olhada e drenei mais 40 ml de líquido. Sim, isso tem me preocupado um pouco. Não posso tirar a prótese agora, pois tenho que fazer a radioterapia, faço três meses de operada dia 01/12 e é o prazo máximo para começar o tratamento. Estou com infecção e só melhorará quando trocar a prótese que foi contaminada por bactéria. A radioterapia acabará dia 23/12, meu cirurgião viajará e só vai voltar dia 18/01, ou seja, dois meses tentando minimizar a infecção. Não sei como será isso! Quando contei que o tratamento só vai acabar dia 23/12, ele também ficou apreensivo.

Eu estava no ônibus e pensei em escrever um post reclamando da infecção. Depois lembrei que há um ano (não lembro o dia exato), recebia o diagnóstico de câncer de mama, lembro de não conseguir dormir uma noite inteira, acordava de duas em duas horas, buscava informações na internet e dormia de novo. Então só tenho que dizer que esse líquido não é nada, tenho mesmo é que agradecer.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Radioterapia

Hoje foi o primeiro dia da radio, serão 28 sessões, terminarei, provavelmente, no dia 23 de dezembro. A primeira sessão é a mais demorada e foi muito chata. Fiquei com os dois braços esticados e não podia mexer, pois é feito um cálculo por um físico. Esses dias senti muita dor no pescoço, devo ter dado um jeito à noite, então foi mais difícil ainda ficar quase meia hora com os braços esticados e imóvel. Quase chorei no final, pois não aguentava mais aquela situação.

Foram feitas novas marcações no meu corpo, estou toda riscada rss. O médico e os técnicos de radioterapia que acompanharam a sessão, foram muito pacientes, pois reclamei um pouquinho e até tirei a mão do lugar em um momento, tiveram que refazer algumas marcações.

A partir de amanhã será mais rápido, durará só 15 minutos. A máquina é estranha, pois fica se movendo, enquanto você fica estática. Agora tenho que fazer os cuidados com a pele com um creme que tenho de passar 3 vezes depois da radioterapia e compressa de camomila. Consegui beber bastante líquido, como foi recomendado.

Como já era de se esperar, não senti nada de diferente, por enquanto. Espero que a minha médica acompanhe amanhã e que seja mais tranquilo.

Esse é o creme que tenho de passar para hidratar a pele.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Cabelereiro

Finalmente, chegou o dia de pintar e aparar os cabelos. Sim! cortei o meu cabelo pela primeira vez hoje. É o primeiro corte desde que renasci. Como criança, fui meio desorientada andando pelo shopping, observando as possibilidades de salões, decidi assim de última hora.Tirei a peruca no banheiro, andei pela primeira vez com os cabelos curtos ao vento.

Entrei no salão, consegui um horário e pedi um corte e luzes. A cabelereira Ana Paula perguntou qual a técnica usavam no meu cabelo para fazer luzes, daí expliquei tudo para ela, e então achou melhor só passar tonalizante, pois não ficaria bonito fazendo mechas.

A Ana Paula me atendeu muito bem, conversou muito comigo; contou a história de uma moça que teve CA há uns dois anos e já está com cabelo grande. Disse que daqui a pouco estarei indo lá para pedir um chanel. Gostei do resultado!

Saí do salão distraída, duas cabelereiras estavam do lado de fora e disseram, "ficou linda"! Mesmo assim, ainda não consegui me desapegar da peruca, tive de colocá-la para ir embora. Um dia de cada vez!


























terça-feira, 10 de novembro de 2015

Consulta ao oncologista

Ontem tive consulta com o meu oncologista. Como sempre fico tensa antes, por mais que dentro de mim, soubesse que é uma grande besteira, pois não fiz nenhum exame ainda depois da cirurgia. Mesmo assim, tomei meu Frontal para me acalmar e fui, pois não dá para fugir!

A consulta foi tranquila, ele estava brincalhão e bem humorado. Perguntei sobre o Zoladex se podia tomar depois do feriado, pois pretendo viajar, ele disse que não tem problema atrasar uns dias e que o plano de saúde não autoriza antecipar a injeção. Ele achou que a radio está demorando muito(ele sempre me apressa para tudo rss); expliquei mais ou menos, mas não entrei muito em detalhes, pois sei que a minha radioterapeuta está por dentro de tudo e sabe que não tem problema. Perguntou se meu cabelo está crescendo e deixou eu pintar. Brincou dizendo que tenho que fazer a radioterapia no Coi da Barra mesmo, pois as máquinas já me conhecem, pois cogitei a hipótese de fazer no Rio sul, mas a minha radioterapeuta não trabalha lá.

A todo momento, perguntava como estava me sentindo. Falei que o Zoladex causa muita irritação; ele disse que causa só um pouquinho (ele diz isso porque nunca tomou rss). Falei que estou precisando do Zoloft para não ficar irritada. Ele disse que pareço uma pessoa tão calma rss; eu disse que em casa nem sempre. Falei também que estou fazendo academia, acupuntura, drenagem...

Por fim, disse que foi muito bom me ver e bem. Não vi a enfermeira Ingrid, fui procurá-la na sala dela, mas ela não estava. Achei engraçado que o Dr. Mauro disse que ela não estava, mas queria muito me ver rss. Marcamos a próxima consulta só dia 18 de janeiro e não passou nenhum exame, Deve ser tudo em janeiro. Que bom!!! Ter mini férias de oncologista!!!

sábado, 7 de novembro de 2015

Segunda tomografia

Sexta fiz a minha segunda tomografia, finalmente!!! Dessa vez foi mais fácil fazer o exame, pois a movimentação do meu braço com os exercícios melhorou bastante.A Lilian falou que na primeira tomografia fiquei muito torta, pois foi muito difícil manter o braço esticado no aparelho. Semana que vem devo começar a radioterapia. Estou doida para iniciar logo!

Não consegui encher o expansor. Há uma semana estava percebendo a pele um pouco vermelha, achei que fosse o processo de cicatrização, mas não! Estou, novamente, com líquido na prótese, ou melhor, estava, pois drenei. O médico disse que uma vez que a prótese se contamina de bactéria, é possível de acontecer novamente..Tive de tomar Bactrim de novo (que saco!). Dessa vez me avisou logo que não podia beber cerveja, antes que eu perguntasse (rs). Ele pensou até em marcar uma cirurgia para retirar a prótese, pois é um procedimento bem simples. Porém a minha radioterapeuta achou melhor não fazer isso agora, para não atrasar o tratamento, ela disse que vai me examinar toda semana para observar a evolução. Também disse que apesar de tudo, o aspecto da pele está ótimo.

Essa semana foi um pouco chatinha com cólicas menstruais, voltar a tomar antibiótico, ainda fiquei resfriada, sem contar o calor que tenho sentido com o Zoladex. Com isso, não tenho ido à academia todos os dias e meu projeto de perder um kg a cada mês está mais distante (rs). É a vida...

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Retorno à nutricionista

Hoje voltei à nutricionista Patrícia para acompanhar o meu peso. Estou com 55 kg e 700g, quase o mesmo peso de sempre. Conversei com ela e disse que quero emagrecer um pouco. Ela deixou, mas disse que fará um teste, como estou fazendo atividade física, vamos ver se emagreço só com a atividade, sem cortar nada do programa já elaborado. A meta é perder apenas 1 kg por mês e voltarei lá no mês que vem para ver se consegui. Espero!!! Porém ainda não estou conseguindo ir à academia todos os dias.

Fiquei menstruada e feliz por ter menstruado, por mais que daqui a pouco comece o remédio Aromasin e pare o ciclo novamente. Isso, ao menos, significa que a quimio não fez estrago na minha fertilidade. Hoje não consegui ir para a academia, pois estava com cólica.

Outra coisa que tenho sentido também é um pouco de sono e li que o Zoladex pode causar isso. Semana passada tive bastante dor de cabeça que também pode ser causado pelo Zoladex. Quando tomar a segunda dose, vou perguntar à enfermeira sobre isso.

Fui também a um restaurante de comidas veganas. Comi um bobó de cogumelo, bem gostoso! Porém hoje estava sem fome, só com cólica.


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